segunda-feira, 30 de agosto de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quem diria... logo na Argentina


A luta pelos direitos e pela diversidade sexual vem a anos sendo construída no Brasil e em outros países da America Latina... e foi justamente num dos países tido como mais conservadores em termos de religião que foi aprovada a “Lei de União Civil”.
A Argentina se tornou o primeiro país da América Latina e o décimo do mundo a autorizar a União Civil entre pessoas do mesmo sexo. Após horas de debates os senadores argentinos numa votação de 33 votos a favor, 27 contra e três abstenções aprovaram o projeto. Luis Juez, da opositora Frente Cívica, optou por apoiar o governo porque, mesmo cristão, entende que "nem na Bíblia há um parágrafo onde Cristo fosse contra os homossexuais". Ele lembrou que o código civil é "uma instituição laica, em um país laico".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

JUVENTUDE E CULTURA PÓS-MODERNA

Lourival Rodrigues da Silva
Os/as jovens contemporâneos estão vivendo na crista da onda por causa da grande quantidade de jovens no Brasil. Todos estão atentos ao tema: Estado, sociedade, universidades, ONGs, partidos, igrejas, etc. são diversos interesses: medo da violência, necessidade de controle, necessidade de consumidores para o mercado, entender o comportamento, tê-los/as como aliados ideológicos, pesquisar por estar na moda... Estes interesses às vezes vêm carregados de um discurso ilusório de inclusão, consumo e diferenças.
As definições de juventude, ao longo da história, foram marcadas pelos paradigmas da forma de atuar com os jovens: muitos entendendo a juventude como período preparatório (escola); outros olhando a juventude como etapa problemática (conflitos, contenção); uns terceiros vendo a juventude como ator estratégico do desenvolvimento e um potencial que poderia ser amadurecido através de programas e projetos; e, por fim, a juventude cidadã encarada como sujeito de direitos que caminha para a autonomia. (ABRAMO, 2005 p. 20).
Os dados do inicio deste século apontavam que o perfil dos jovens brasileiros era de 21 milhões de adolescentes de 12 a 18 anos. Sendo que a juventude de 15 a 24 anos estaria na casa dos 34 milhões. Já os adultos jovens de 25 a 29 anos, categoria recente nos Brasil, seria de 13,8 milhões. Juntando jovens e adultos jovens (15 a 29 anos): 47 milhões (IBGE – 2000).
A Secretária Nacional de Juventude em seus documentos de preparação da Primeira Conferencia Nacional de Políticas Pública de Juventude divulgou que há hoje no Brasil 50,5 milhões de jovens na faixa etária de 15 a 29 anos. Sendo que 14,6 milhões moram em regiões metropolitanas. 25,4 milhões vivem em regiões não metropolitanas. 7,8 mil vivem em regiões rurais.
O Brasil vive desafios a serem enfrentados no que diz respeito as demandas e dívidas sociais com a juventude conforme os dados que se refere à educação temos hoje segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicilio PNAD, 17,8 milhões de jovens estão na escola – sendo 4 milhões no Ensino fundamental, 8,3 milhões no Ensino Médio e 4,1 milhões no Ensino Superior. 11,5 milhões de jovens têm o Ensino Médio Completo. 6,4 milhões de jovens estão desempregados. Sendo que destes 4, 5 milhões não concluíram o ensino fundamental. 1,3 milhões de jovens são analfabetos (PNAD, 2003)
Quanto à situação ao emprego e trabalho 63 % dos jovens que trabalham não têm carteira profissional assinada (Instituto Cidadania, 2003). Dados da Unicamp, mostram que, em 1995, o desemprego atingia 13,9% dos jovens de 16 e 17 anos.
Os/as jovens enfrentam também o desafio das questões referentes a violência onde 63% dos/as jovens que vivem em regiões metropolitanas, têm a violência como maior problema para a juventude. Dos 70% do conjunto de mortes violentas entre os jovens de 15 a 24 anos, 39,2% são causados por acidentes de transito, homicídios. A taxa de homicídio entre jovens é duas vezes e meia maior que entre outros seguimentos etários. O índice entre jovens vitima de assassinato cresceu 81,6 % nos últimos 22 anos (UNESCO, 2002). Ao se considerar as pessoas jovens (com menos de 29 anos), o número de mortes violentas sobe para 35,6%. as vítimas preferenciais são do sexo masculino.
No entanto esses sujeitos buscam espaços de socialização em que possam se sentirem visibilizados e incluídos na sociedade. 28,1 % dos jovens participam de algum grupo (Ibase/polis, 2005). São 7 milhões de jovens que fazem ou querem fazer algum tipo de atividade em beneficio a sua comunidade (Instituto Cidadania, 2003).
A questão relacionada a família aponta também questões a serem levadas em conta sobre os/as jovens, pois dados apontam que 11,7 milhões de jovens vivem em famílias que não têm condições para satisfazer suas necessidades básicas (PNADA, 2003). Um quinto dos jovens tem filhos (Instituto Cidadania, 2003). 83 % dos jovens solteiros não pretendem sair ou vai esperar mais um pouco para deixar a casa dos pais (Instituto Cidadania, 2003).
Sobre as questões da cultura dados revelam que 85,8% dos jovens se informam por meio da televisão (Ibase/Polis, 2005). 78 % dos jovens nunca participaram da produção de informação em meios de comunicação (jornais, de escola, fanzines, TVs, rádios comunitárias, produção de vídeo, etc), (Ibase/Polis, 2005). 77,4 % dos jovens das classes D e E não sabem usar computador. Entre os jovens da classe A, essa taxa cai para apenas 12,5% (UNESCO, 2004).
Já a vivencia da sexualidade aponta também que 58% das meninas acham que a virgindade é importante e 63% dos meninos acham que é coisa do passado. 85% dos jovens são contra o aborto quando a mãe não desejar o filho. 18% consideram o homossexualismo uma doença e 30% dos jovens não gostariam de ter um homossexual como colega de classe. 47,1% dos jovens não gostariam de ter um homossexual como vizinho (UNESCO). Entre as meninas, “49% dizem não usar preservativo por manterem relações com quem confiam”. 25% se acham livres do risco de contrair o HIV (UNESCO, 2004).
Uma questão que se apresenta hoje é diferenciar o que é próprio do período etário juvenil e o que é fruto da atual sociedade. Especula-se que a juventude é uma presa fácil do mundo Pós-Moderno, e que estaria mais vulnerável às conseqüências destas transformações. O desafio é entender a cultura dentro deste momento de evolução tecnológica em que tudo tem um conteúdo visual e sonoro e que trafega por veículos e meios rápidos e que se tornam globais, impondo um mesmo padrão cultural e uma mesma matriz a todos/as.
O mundo atual é o tempo da comunicação e da informação. A realidade se apresenta como a era da informática, da civilização eletrônica, da imagem, do mundo da comunicação por vias virtuais. Essa nova era leva a juventude a construir seu imaginário dentro da cultura da imagem. Essas imagens são firmadas através de ícones e símbolos que se tornam mais expressivos a cada descoberta feita e desejada.
O padrão de consumo apresentado pela comunicação tem influência direta sobre a vida das pessoas, sobretudo da juventude. Os novos símbolos interferem na realidade em que os/as jovens se organizam e agem. As realidades, além de mais complexas, estão justapostas entre os fatos, as notícias, as particularidades e a fragmentação da sociedade. O mundo global coloca, através da Internet e suas redes de comunicação, uma infinidade de misturas de culturas, linguagens, códigos de comunicações e relações.
O mundo Pós-Moderno atua na cultura inculcando nos indivíduos que o importante para a comunicação é a pessoa se preocupar com sua imagem, aparecer e estar permanentemente preocupada com a sua autoconstrução. Esse modo de pensar e agir estão organizados e pensados para o individuo e, em especial, para o mundo juvenil. A mesma cultura de massa e de tecnologia não consegue garantir a todos/as o acesso ao saber, à cultura, ao lazer e ao desporto, pois a influência neoliberal prega um Estado mínimo, controlado pelo mercado.
Estado mínimo que faz com que este se ausente de seu papel de garantir os direitos básicos da população no que se refere aos serviços de segurança, saúde, transporte, lazer, educação, apresentando-se cada vez mais precários, insuficientes e mal distribuídos.
Os/as jovens têm, no seu horizonte, o desafio da busca do que lhe é desconhecido e ausente e a possibilidade do consumo se torna, para ele, uma janela de oportunidade. O consumo nunca descansa. Sempre surgem novos objetos desejáveis. A juventude se constituiu em um dos grupos que mais se sentem aguçados com a espera dos lançamentos do cinema, da TV, da informática. Eles/as acreditam e esperam, porque se identificam, reconhecem-se nela e no desejo que a propaganda cria.
Esse modelo econômico e midiático confunde os/as jovens, não lhes possibilitando diferenciar o que vem a ser desejo e o que são necessidades humanas. A mídia, aliada do mercado de consumo, desperta uma insatisfação que leva à exploração da vontade interna de ter o que o/a outro/a tem. Estimula a imitação de tudo que o/a outro/a possui. Causa o desejo mimético de ser o outro. Há quem diga que a comunicação educa para a mentalidade afirmativa – poder – superioridade; “eu narciso” num constante desejo de autoconstrução. Toda a sociedade e, em especial, os/as jovens, recebem a mensagem de que cada um dos seus membros tem a responsabilidade de se preocupar consigo mesmo (autocentramento).
A juventude inculca em seu sistema de compreensão e interação com o mundo um conjunto de satisfações pessoais. Quando não o consegue, experimenta uma insegurança generalizada. Para prevenir e impedir essa insegurança, a sociedade provoca um deslocamento da confiança nas relações de proximidade e intimidade para a relação técnica. Como resultado, há juventudes menos conceituais, analíticas e organizadas.
A cultura Pós-Moderna forja uma propaganda para que o indivíduo consuma o máximo possível. Nem todos/as os/as jovens, no entanto, conseguem ter acesso e condição de consumo como o mercado deseja. Cria-se, assim, nos jovens, uma ilusão de que tudo está à disposição de todos/as. Porém, pouquíssimos são aqueles/as que podem consumir tudo que ela propõe. A cultura midiática vende o que a sociedade está disposta a aceitar. É por essas razões que a juventude não pode ser deixada de lado na análise da comunicação, pois, por sua própria natureza, ela busca a curiosidade como elemento para se construir e se identificar socialmente.
Na temática da cultura Pós-Moderna o corpo ganha lugar de destaque, pois é por natureza um instrumento de comunicação. A etapa da juventude é um momento em que o corpo está cheio de vigor com capacidade de se expressar socioculturalmente. Sobre o corpo recai uma mensagem de interlocução constante, tornando-se um instrumento de comunicação visual. O tempo da juventude é entendido como potencialidades. Este tempo reflete diretamente em seus corpos. Com isso as pessoas adultas querem ter a vitalidade da juventude, desejam energia. Essa concepção de corpo juvenil está ligada à visão mecanicista de utilidade e capacidade. Ninguém quer ser velho ou incapaz. Hoje, tudo passa pela experiência, pela vivência dos sentidos e dos órgãos do corpo.
A sociedade moderna atua com a expectativa do estético. Investe no gosto da juventude, cria uma roupagem de modernidade e atua com propostas para que esse corpo esteja em evidência. No campo afetivo, a paquera, o “ficar” e as relações acabam sendo temporárias e sem compromissos. Os modos e os meios de produção geram sujeitos carentes e sem compreensão de sexualidade e afetividade. São aspectos reforçados pela cultura e pelas relações sociais. A psicologia evolutiva produz cultura, ritmos, espaços e símbolos da indústria cultural adultocêntrica. O corpo é máquina – horizonte do desejo da construção da identidade. O corpo juvenil é o que marca o tempo para satisfação dos desejos e das possibilidades do imaginário.
O corpo não pode ser reduzido ao horizonte do objeto do prazer e do disciplinamento de atitudes. Quando o prazer se torna um horizonte a ser conquistado pelos/as jovens e a sociedade moderna e pós-moderna impõe a forma de alcançá-los, provoca uma confusão na visão da juventude, fazendo crer que o gozo eterno não se encontra no cotidiano das relações, das descobertas, dos namoros ou dos afetos.
A juventude se constitui num mosaico de grande diversidade juvenil: raça, classe social e regionalização. Um rápido mapeamento da juventude urbana podemos encontrar diversas formas de socialização e seus grupos: torcidas organizadas, capoeiristas, jovens das igrejas (vários grupos e denominações), skaitistas, jovens punks, estudantes, trabalhadores/as, jovens em conflitos com a lei, meninos e meninas de em situação de rua, jovens portadores de deficiência, juventude do hip hop, jovens escoteiros/as, negros e negras, jovens feministas, LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais), roqueiros, jovens presentes nos grupos de teatro, de dança, poesia, música, jovens punks, adolescentes emos, metaleiros, underground, rappers. No entorno do urbano vamos encontrar também os jovens das zonas rurais/quilombola, ribeirinhos, indígenas, ciganos e ciganas, também identificados/as hoje como comunidades tradicionais.
As culturas, outrora consideradas rebeldes e opositoras, têm espaços legitimados nas tensões e reivindicações de demandas a partir de múltiplos discursos de participação juvenil. A diversidade juvenil ganhou capital simbólico que lhe deu reconhecimento de ordem estética, étnica, onde a exacerbação da singularidade se choca com a ilusão de inclusão.
Sempre que se pensa “nos jovens” as primeiras perspectivas que se apresentam são referentes a visibilidade social destes: tribos, bandos, rebeldes... O modo de vestir, circular, comportar e socializar desses sujeitos trazem demandas, linguagem, comunicação própria... A sociedade, através das instituições, quando não preparada para essa forma de visibilidade, reage com repressão, violência, condenação e estigmatização dos/as jovens.
Muitas instituições contribuem para que os/as jovens sejam vistos pela marca da violência e da vulnerabilidade, sendo condenados pela repressão ou por atitudes fundamentalistas (caso de algumas tendências religiosas). Por outro lado, ditando e restringindo o lugar da juventude (lazer, trabalho, cultura, saúde, escuta...), o estado não consegue garantir, por exemplo, escola próxima à moradia dos jovens.
As manifestações juvenis estão marcadas por expressões, pontos de disputas territoriais, contestação, encontros, conflitos e, sobretudo por relações de trocas. Neste território vão marcar suas reivindicações explicitas e implícitas de circulação, transporte, capacidade de consumo e busca de visibilidades.

REFERENCIA
1. ABRAMO, Helena Weldel. O uso das noções de adolescência e juventude no contexto brasileiro. In: FREITAS, Maria Virgínia. Juventude e adolescência no Brasil: referencias conceiturais. 2ª Edição. Ação Educativa, São Paulo, 2005.
2. CNBB, Conferencia dos Bispos do Brasil. Evangelização da Juventude. Doc. 85. Paulus, São Paulo, 2007.
3. ESCOBAR, Manuel Roberto, MENDONZA, Nydia Constanza. Jovens Contemporâneos: Entre la heterogeneidad y lãs desigualdades. Revista Nómadas. Instituto de estúdios Sociales Contemporâneos – Universidad Central. Buenos Aires, 2005.
4. PNADA, 2003, disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/populacao_jovem_brasil/default.shtm
5. IBGE 2008 disponivel em http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?z=pnad&o=3&i=P
6. Pesquisa UNESCO, divulg(PNADA, 2003).ada em setembro de 2004.

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE

Lourival Rodrigues da Silva

Síntese do texto “A Construção Social da Juventude” - Lydia Alpizar eMarina Bernal. In:
Mulheres Jovens e Direitos Humanos. Manual de Capacitação em direitos humanos das mulheres jovens e a aplicação da CEDAW. EDLAC, Edição Brasileira, São Paulo. 2004.

Este é um texto com referencias feministas que trabalha com a corrente construtivista que se preocupa com a construção social da realidade – Tendo como perspectivas a questão de gênero, a etnia e as preferências sexuais e afetivas. As autoras defendem que a sociedade cria noções e conceitos que definem as pessoas, as situam em determinados lugares. – essa determinação diferencia a capacidade de decisão, autonomia e desenvolvimento. Nessa visão construtivista a pessoa deve ser ativa, dotada de potencialidades, capacidade para transformar, desconstruir e construir novas explicações sobre si e o mundo;

O artigo defende que a juventude foi explicada e entendida através das instituições: Igreja, Estado, Família, Escola e os meios de comunicação, acadêmicos e outros são fontes de produção e reprodução de discursos sobre a juventude. Destacando que o conhecimento cientifico legitimou as práticas e mecanismos de controle das pessoas jovens. Esse controle atua através da pesquisa como caminho para definir as relações de poder sobre os jovens. Afirma que as teorias sobre juventude estão carregadas de visões sobre o ser humano, a política, economia, e realidade social.

Visão psico-biológico
1. Vê a juventude como etapa do desenvolvimento psico-biológico. Cita Hall que tem a adolescência como transição dominada pela angustia, confusão e alterações psíquicas. Ana Freud que diz ser necessário fazer um controle dos impulsos da sexualidade do adolescente. Esta visão definiram a juventude como fenômeno universal: mudanças físicas, psicológicas, rebelião com a família de origem. Trazendo também Aberásturi que diz que a adolescência é período de contradições, confusão, dor e atritos com a família. Essas visões levam a um imaginário dos jovens como problema, etapa de crise, patologia e momento de risco ou perigo. Resultado da corrente positivista e funcionalista: onde o ser humano deve se desenvolver, a partir das suas condições físicas, hormonais... São essas condições que define se a juventude é normal ou anormal.

Visão da juventude como integração social
1. Entende que a juventude deve: adquirir valores, habilidades para a vida adulta integrada e produtiva. Para Erikson a adolescência é momento de aprendizagem, potencial de desenvolvimento e integração. Tendo a moratória – tempo permitido para, e defendendo ainda que as questões emocionais é que definem as identidades juvenis e que a escola, a família e o trabalho estão organizados para que os jovens possam adquirir esse status e se ajustar no padrão. Nesta corrente existem diversas formas de abordagem sobre a temática juvenil: sociológica – cultura juvenil, tribos urbanas, psicologia do desenvolvimento, jurídica, antropológica (jovens marginalizados com dificuldade de integração social, delinqüentes, pobres, negros...). muitas destas visões resultaram em políticas de readaptação social juvenil, de prevenção da delinqüência, de legislação, de ações repressivas, sustentadas por tipologias discriminatórias em relação: a raça, classes, escolaridade.

Visão do jovem como agente de mudança
1. Segundo as autoras, essa linha traz uma visão idealista dos jovens e que delega e deposita nos jovens as responsabilidade de mudanças dos problemas e que a juventude seja portadora do futuro. A juventude dos anos 60 foi uma tradução dessa visão. Onde se pedia que a juventude fosse rebeldia, revolução, ativismo, contestação, questionamentos da cultura dominante.

Visão da juventude como problema de desenvolvimento
1. Visão vinculada às políticas publica de juventude como problema de desenvolvimento: desemprego, consumo de drogas, gravidez na adolescência, migração, baixa educação, casamento. Tem como finalidade integrar os jovens na sociedade.

Juventude e gerações
1. Situa os jovens a partir de acontecimentos históricos significativos em uma época e que pode ser comparada com outra época. Daí certos conceitos distorcidos: geração pedida, geração X, geração cética, geração da rede. Atribuem aspectos homogeneizadores características comuns a todos que formam uma mesma geração do momento.

Juventude como construção Sócio-cultural
1. Parte da idéia de que a identidade juvenil resulta de processos de construção sócio-cultural como expressão dos jovens. Combinam análises das relações de poder entre o gênero, sexualidade, raça e idade. Valenzuela fala da condição juvenil como categoria, como construção sócio-cultural historicamente definida, situadas, com caráter mutável e transitório de disputa e negociação da representação dos jovens. Em sua construção as identidades incluem autopercepções, símbolos de pertencimento. Carlos Feixe trabalha na perspectiva das culturas juvenis como experiências coletivas dos jovens a partir de estilos construídos no tempo livre ou institucional. Segundo ele a juventude é vista na sociedade como processo de emancipação da família e construção da identidade própria firmada pelo trabalho.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DESSES DISCURSOS
 Nenhuma instituição social produz um discurso neutro sobre juventude. Todos levam, implícitos, diversos elementos valorativos sobre a população jovem.
 Esses discursos institucionais disputam o privilégio de definir a juventude, através do estabelecimento de critérios do "dever ser" das pessoas jovens.
 Os discursos das diferentes instituições se relacionam, se complementam e, freqüentemente, são contraditórios entre si.
 Essas contradições estão presentes, também, na forma como as pessoas jovens, concretas, vivem suas juventudes e vêm a si mesmas.
 Esses discursos implicam sobre as juventudes pelo fato de serem vítimas de violência como método corretivo, de abuso, no âmbito do trabalho, por serem sub-contratadas e mal pagas.
 Limitação na definição de seus estilos de vida, no exercício de seus direitos e da participação nos processos de tomada de decisões.
 Intolerância e a incompreensão produzida pelas instituições diante das diferentes expressões juvenis, pois essas são interpretadas como ameaça.
 Discriminação e na violência que são legitimadas como mecanismos "necessários" de controle das pessoas jovens.

QUE CARACTERÍSTICAS POSSUEM TAIS PERSPECTIVAS?
 São homogeneizadoras: Assumem que as pessoas jovens têm características, necessidades, visões ou condições de vida iguais e, portanto, homogêneas.
 São estigmatizadoras: A partir de certos estereótipos e preconceitos estigmatizam as pessoas consideradas como jovens, ou "certos tipos de jovens", impondo-lhes aspectos freqüentemente considerados negativos.
 São adultocêntricas: Em uma cultura adultocêntrica o poder e muitos recursos relacionados com a condução da vida social estão centrados nas pessoas adultas médias, por esse motivo estão em uma situação de dominação com relação aos demais: crianças, jovens e, inclusive, pessoas adultas idosas.
 O parâmetro de validade de muitas ações dirigidas à população jovem ou as próprias ações realizadas pelos e pelas jovens são legitimadas a partir do mundo adulto.

A PERSPECTIVA DE CONSTRUÇÃO SOCIAL
 Nas últimas décadas vem sendo realizada uma leitura histórico-critica das perspectivas "tradicionais" sobre a juventude, recuperando a experiência de outras populações que enfrentam diferentes condições de marginalização, tais como: as mulheres, as pessoas afrodescendentes, os povos indígenas, lésbicas e gays, entre outros.
 Essa leitura marca-se por uma visão: compreender que o gênero, a juventude, a etnia, a orientação sexo-afetiva, entre outras, implicam condições sociais que não são "naturais" ou estáticas, mas sim construções sociais.

PERSPECTIVA DE CONSTRUÇÃO SOCIAL SOBRE JUVENTUDE
 Que a juventude é produto da interação entre as condições sociais e as imagens culturais que cada sociedade elabora, em cada momento histórico, sobre esse grupo social.
 Que a juventude não é algo "natural", estático, não é algo dado, mas que permanentemente está sendo construído e reconstruído historicamente.
 Que cada sociedade define "a juventude" a partir de seus próprios parâmetros culturais, sociais, políticos e econômicos.
 Assim, não há uma definição única do que é a juventude e, portanto, as perspectivas tradicionais e os discursos institucionais sobre a juventude podem ser transformados, podem ser desconstruídos e reconstruídos.
 Tais identidades são produto de uma tensão permanente entre as representações dominantes sobre o que "deve ser" a juventude, produzidas de fora da perspectiva jovem e aquelas elaboradas pelas próprias jovens. São modificáveis, transitórias e construídas dentro de redes de relações de poder.

CONCEITOS CENTRAIS NESTA PERSPECTIVA:
 Não há "JUVENTUDE", mas "JUVENTUDES": ou seja, um grupo social que pode ser categorizado a partir de diferentes variáveis (demográficas, econômicas, culturais, etc.);
 Entende-se como "JUVENIL" as produções culturais e contra-culturais que estes grupos sociais desenvolvem ou inibem em sua cotidianidade (também são conhecidas como culturas juvenis).
 AS IDENTIDADES JUVENIS são marcos simbólicos pré-existentes e já existentes que permitem que as e os jovens se reconheçam e se façam reconhecer como diferentes dos outros. Tem uma duração fixada no tempo e no espaço e varia em cada cultura e em cada época.

PÓS-MODERNIDADE: ENTRE PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Lourival Rodrigues da Silva

A compreensão da modernidade e da pós-modernidade, possibilita uma ampliação dos conceitos e características que interferem na questão da crise de paradigma na qual vive a atual sociedade. Possibilitando visualizar as diferentes matrizes que prepararam o terreno das mudanças que o mundo vem enfrentado, permitindo uma compreensão da modernidade e da pós-modernidade com suas influências, causas e conseqüências.

A Cristandade
Para falar da modernidade é necessário buscar o que existia antes e o que orientava a vida das pessoas e da sociedade. Antes da modernidade a humanidade viveu o tempo chamado de Idade Média. Nela predominava o sistema feudal, que era sustentado nas estruturas político-religiosas: reis, clero, nobreza e povo. A sua economia se firmava nas terras e nos ofícios dos artesãos. Esse período da humanidade é entendido como Cristandade.
A Cristandade teve como base de orientação o pensamento filosófico único do teocentrismo. Quer dizer: a centralidade de Deus na visão da vida, sociedade e do cosmos. Deus era a referência máxima de valor, e todas as manifestações que estivessem fora destes limites eram reprimidas. Para José Comblin a cristandade é marcada pela mistura do discurso das elites dirigentes para a nobreza e para as massas dos camponeses, o discurso do clero monástico ou secular. Esses discursos sustentavam as classes sociais da cristandade e o poder pertencia, sobretudo, à nobreza e ao clero (COMBLIN, 1986, p. 122).
O autor afirma que a cristandade continuou até a Revolução Francesa. Segundo ele os discursos da cristandade “continuou sendo, por muito tempo, o linguajar do clero, mesmo nos lugares em que a cristandade já tinha praticamente desaparecido. Ainda hoje muitos discursos do clero retomam os temas da antiga cristandade” (COMBLIN, 1986, p. 123).
Nos discursos da cristandade, a pessoa é cristã sem ter feito escolha, “é cristã pelo fato de pertencer à sociedade à qual pertence. Deixar de ser cristão é cortar os laços sociais. Na cristandade, para ser cidadão é preciso ser cristão” (COMBLIN, 1986, p. 125). “Quem falava de Deus, falava para a sociedade toda e não apenas para uma pequena elite espiritual” (COMBLIN, 1986, p. 145). Para o autor, na cristandade medieval havia uma só palavra, um só discurso imposto como uma “verdade” particular, como “verdade” geral.
Desta maneira a cristandade se firmou como algo natural, dado. Pablo Richard define a cristandade de forma ampla afirmando que “em um regime de cristandade a Igreja procura assegurar sua presença e expandir seu poder na sociedade, utilizando, antes de tudo a mediação do Estado” (RICHARD, 1984, p. 09).
É por isso que os chefes da igreja e do Estado legitimavam-se no modelo de sociedade da época. Para Comblin, o discurso da cristandade era sustentado pelos reis e demais chefes do povo que estavam a serviço da Igreja. O povo devia-lhes obediência, como se obedecia a Deus. Assim a cristandade se achava imutável, a última etapa na história do mundo, considerada a maior perfeição na terra (COMBLIN, 1986, p. 145).
A promessa central da Cristandade foi a de que a felicidade só seria alcançada após a morte, no paraíso. A modernidade mudou essa visão cristã. Por essas razões que se acredita que dentro da própria cristandade nasceu a “cultura moderna, com um discurso que se apresentou como rival e sucessor do cristianismo” (COMBLIN, 1986, p. 204).

A Modernidade
Como foi visto anteriormente a modernidade nasce do rompimento com a tradição, com os modelos de conduta e autoridades que eram sustentadas pela tradição e pela religião e que foram perdendo seu caráter de cosmovisão global e única.
Na busca de conceituar esse paradigma Anthony Giddens defende que a “modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII” (GIDDENS, 1991, p. 11).
Já Alain Touraine defende também que a modernidade surgiu pela capacidade dos indivíduos romperem com a Cristandade. Diz ele que a modernidade:
Definiu-se como o contrário de uma construção cultural, com a revelação de uma realidade objetiva. A modernidade é a antitradição, a derrubada das convenções, dos costumes e das crenças, a saída dos particularismos e a entrada no universalismo, ou ainda a saída do estado natural e a entrada na idade da razão (TOURAINE, 1995, p. 118).

O surgimento da modernidade está marcado também pela constituição de um novo pensamento do grupo chamado de modernista. Segundo Comblin, os modernistas pensavam que:
Iam oferecer ao mundo uma forma superior de viver, uma humanidade realmente superior a tudo o que se tinha vivido anteriormente. Para os cristãos essa visão era blasfêmia. Ela destruía toda a pretensão cristã de ser a última idade do mundo, a fase mais adiantada da história humana, o ponto mais alto do ser humano (COMBLIN, 1986, p. 204).

Um outro fator que possibilitou o surgimento da modernidade foi o deslocamento do poder religioso, para o poder profano, o que provocou a dissolução da unidade religiosa e fez aparecer a formação de novos princípios de organização de caráter nacional. Ocorreu também o crescimento de outras visões sobre o cosmos, o que levou a religião a ficar reduzida a uma particularidade (ZAMORA, 2004, p. 02).
Nos conceitos trazidos pelos autores sobre a modernidade é possível perceber algumas recorrências: a modernidade é uma mudança na visão e compreensão do mundo, que estavam condicionadas ao aspecto religioso.
A modernidade trouxe consigo um discurso carregado de promessas e com nele surge a classe burguesa, com uma nova concepção de realidade social. No novo discurso o sacerdote perdeu o monopólio da palavra pois antes “eu falava sozinho, agora tem mais gente falando também” e mais ainda foi substituído pelo intelectual, o que significa agora “outro fala em meu lugar”. Assim surge o discurso moderno fundamentado na vida individual e na ação das “classes dos intelectuais. Estas são as que passam articular a sociedade moderna” (COMBLIN, 1986, p. 204).
Emerge, assim, a universalidade de um discurso centrado nos seguintes princípios: razão, felicidade, liberdade e mercado. “Na modernidade tudo gira ao redor desses temas” (COMBLIN, 1986, p. 204). Para Comblin, na razão, o homem se conhece a partir de si próprio e se opõe a costumes, tradições, preconceitos, autoridade, intuição, instinto e sentimento.
Quatros foram as principais promessas da pós-modernidade: razão, felicidade, liberdade e mercado. A seguir uma breve síntese de cada uma destas.
A idéia de razão foi encarnada no Estado que passou a se apresentar como entidade política dos cidadãos ativos com capacidade de se auto-organizarem a partir de um conjunto de direitos civis, políticos e sociais. Assim, a razão passa a ser a centralidade e se torna uma conquista moderna. Ela permite que a pessoa submeta tudo ao conhecimento e só aceite o que passou pela experimentação.
A razão deu origem a racionalização científica, outro fator que também contribuiu significativamente para o surgimento da modernidade, em que a imagem do mundo passou a ser fundamentada em observações controladas, repetidas e quantificadas de maneira objetiva. Surge daí a imagem de mundo desencantado, a partir da separação entre o real (objetivo) e o desejado (imaginado) pela subjetividade humana.
O segundo princípio que vai dar sustentação à modernidade, para Comblin, é a idéia de felicidade. Para ele a felicidade ocorre quando o homem pode satisfazer as suas necessidades vitais em primeiro lugar e, depois, os seus outros desejos: “biológicos, psicológicos, sociais, consumo, movimento, atividade corporal e mental, produção material e cultural, amor, sociabilidade, paz” (COMBLIN, 1986, p. 209).
O autor afirma que esse discurso aparece como uma mensagem que chama o individuo a se libertar das estruturas que o impediram de desenvolver a sua personalidade, propondo o desenvolvimento completo das virtudes humanas: viver bem, gozar de tudo, sem limites e culpabilidades.
Para Comblin, trata-se de:
Um apelo à emancipação de todas as formas de constrangimento que o sujeito experimenta em si mesmo: tabus, medos de viver ou agir, temor ante as forças do mundo, temor ante o desconhecido, angústia sem motivo. A modernidade desfaz os “complexos”, oferece a realidade inteira como aberta, disponível, sem restrições (COMBLIN, 1986, p. 209).

Junta-se à idéia de liberdade os conceitos de cidadania, dignidade individual que possibilitaram uma subjetividade focada no individuo. Surge o sujeito capaz de criar suas leis e soberania. Essa felicidade é uma proposta de emancipação de muitas dependências: mulheres, trabalhadores, das classes exploradas. Passa a ser um discurso que permite rebelar-se contra a idéia de sacrifício.
Para Comblin no discurso da modernidade a felicidade está à disposição do homem, para que este não viva em função do outro. Ela é resultado de conquista de várias lutas: família, clã, tribos. Segundo o autor, nasce da luta contra as exigências de solidariedade do grupo. É uma conquista contra os privilégios das classes dos nobres, dos proprietários.
Por isso que Zygmunt Bauman defende que a modernidade penetrou na consciência coletiva, modelou o pensamento e que, assim, reflete a cultura da beleza, da limpeza e da ordem. Para o autor, essa modernidade pensou a si mesma como uma atividade da cultura ou civilização (BAUMAM, 1997, p. 07).
Outro fator que vai dar sustentabilidade à modernidade é a idéia de mercado como regulador das relações sociais que se dão através da divisão social do trabalho, fundamentada no princípio da propriedade privada e na inclinação do homem para a satisfação de suas necessidade e na competição entre os interesses individuais e coletivos (ZAMORA, 2004, p. 03).
Para Boaventura Sousa Santos, a modernidade, é um projeto muito rico, capaz de infinitas possibilidades e, como tal, se torna muito complexo e sujeito a desenvolvimentos contraditórios. A modernidade se fundamentou também sobre o pilar da regulação, com o princípio do Estado e da comunidade a partir da concepção de emancipação, com a racionalidade expressiva da arte e da literatura, da moral e do direito, e da ciência da técnica (SANTOS, 2003, p. 76).
A promessa de realização humana, de felicidade, liberdade e da possibilidade de acesso em igualdade de condição a tudo que a sociedade poderia oferecer. Criou uma individualidade nas pessoas, transformando-as em agente, responsáveis e autores de seus sonhos, desejos e democracia. A sociedade aceitou essas promessas como escolha, para uma nova forma de produção, de consumo, comunicação e assim ela passou a se identificar com o espírito da livre iniciativa.
Propunha-se uma melhor qualidade das formas de vida para a pessoa, a ecologia, a paz, a solidariedade internacional, a igualdade de relações, a democratização política, a democratização radical da vida pessoal e coletiva, o alargamento do campo da emancipação via democracia representativa e a democracia participativa.
Para Boaventura o projeto da modernidade é ambicioso, revolucionário, com possibilidades muito amplas e, por serem amplas, são excessivas e difíceis de serem cumpridas (SANTOS, 2003, p. 78). O autor aponta como conseqüência da não realização desse paradigma o surgimento de sinais evidentes de crise, pois não se confirmava o brilho prometido da ciência, com soluções privilegiadas para a vida social e individual.
Bauman defende que “os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual” (BAUMAN, 1997, p. 10). Para o autor o sonho foi abandonado e não realizada a expectativa de suprir as desigualdades sociais geradas, de garantir ao indivíduo humano possibilidades iguais de acesso a tudo de bom e desejável que a sociedade pode oferecer (BAUMAN, 1997, p. 195).
Para Helmut Thielen, a crise da modernidade tem sua gravidade na economia capitalista porque se firmou nas características centrais da exploração da mão-de-obra, na desvinculação da economia capitalista e da sociedade civil. Essa concepção econômico-sócio-política gerou uma crise de desigualdade social, que causou o aumento da miséria social, com impacto sobre as questões econômicas, ambientais e que, por fim, resultou na dependência do chamado “Terceiro Mundo” (THIELEN, 1998, P. 19).
Cristián Parker afirma que “há um desencanto crescente das massas populares em relação às promessas de salvação secular que provinham da classe política, tanto tradicional como revolucionária” (PARKER, 1996, p. 333).
O não cumprimento das promessas da modernidade tem gerado uma sensação de perda, de fragmentação, o que levou a um esvaziamento dos grandes relatos produtores de sentido. Hoje já se percebe uma tentativa de volta às questões da religião, do papel do Estado, da dimensão da emancipação da pessoa e da relação da natureza com o homem.

Pós-modernidade
Na segunda metade século XX aconteceram uma serie de transformações que provocaram um horizonte além da modernidade. Essa fase de transição para muitos se caracterizaria pela “sociedade de informação” ou a “sociedade de consumo”. Esse contexto apontou para eventos inovadores que ainda hoje fogem ao entendimento completo e a qualquer controle.
Estaria nestas transformações o surgimento do paradigma da Pós-modernidade que segundo Moreira, se baseia no fim das grandes narrativas, também denominadas de pós-modernismo.
Pós-modernismo é aquilo que teorizado e expresso nas diferentes orientações científicas e artísticas, constituindo um indicador de práticas mais amplas de uma cultura pós-moderna, consumo e circulação de bens e práticas culturais. Tais tendências teriam assumido proporções epocais e de civilização e assinalariam um movimento em direção à pós-modernidade (MOREIRA, 2004, p. 02).

O certo é que no interior da literatura, das artes plásticas e da arquitetura, se espalhou o sentimento que passou a definir o movimento da estética e o estilo de vida. Assim o termo pós-modernidade passa a ficar mais marcado pela reformulação de todas as referências construídas anteriormente pela modernidade. Esse termo, porém não é consenso entre os teóricos.
Plínio Freire Gomes diz que “a vertigem que chamamos de pós-modenidade está associada a um duplo fenômeno: o advento da velocidade e a internacionalização das relações econômicas” (GOMES, 2002, p. 01). Este autor defende que esse é um processo paradoxal situado entre a degradação das idéias da modernidade e as inovações que estariam em pleno andamento com as novas relações (pessoais, mercadológica, cultural, religiosa). Essas transformações têm contagiado inúmeras tradições artistas, culturais e intelectuais.
Giddens chega a defender que “não basta inventar novos termos, como pós-modernidade e o resto” (GIDDENS, 1991, p. 11). Para ele a sociedade ainda não entrou na pós-modernidade, sendo que a modernidade está se radicalizando. Afirma que a sociedade está vivendo uma fase de radicalização, provocada pelo declínio da hegemonia européia, que facilitou a criação de civilizações regionalizadas em outras partes do mundo.
O termo pós-modernidade é, assim fruto do desenvolvimento administrativo, industrial, da complexidade política e econômica. O termo seria resultado da dificuldade das “ciências sociais em mapear o universo cultural da desintegração do mundo tradicional” (MOREIRA, 2004, p. 01).
Os diversos autores, mesmo não concordando com o termo pós-modernidade, apontam que as mudanças provocadas pelos desenvolvimentos acontecidos nos últimos anos apresentam conseqüências, como o surgimento de novas organizações sociais divergentes das criadas pelas instituições modernas.
Na falta de consenso sobre o que está acontecendo com a modernidade, a pós-modernidade, ou modernidade tardia, alguns autores preferem denominar esse momento de “A nova cultura” ou “cultura atual”. O certo é que é necessário considerar que estas questões fazem parte do dia-a-dia e que também são fruto da ampliação sofrida pelo mundo, agora entendida globalmente.

Globalização
Não há como negar que o desenvolvimento tecnológico é um dos grandes contribuidores para que o mundo fosse compreendido para além do continente europeu. Começando pelas navegações mercantilistas, passando pela Revolução Industrial até as infinitas possibilidades atuais da comunicação. Todos esses aspectos tiveram um papel definitivo na forma de ver e se relacionar dos diferentes países. “Nos últimos vinte e cinco anos, acumularam-se mais conhecimentos tecnológicos do que em toda a história da humanidade” (DOWBOR, 2000, p. 10).
Dadas as transformações geo-históricas em curso no século XX, são bastante evidentes os desenvolvimentos da transnacionalização, mundialização ou, mais propriamente, globalização. São transformações que não só atravessam a nação e região, como conformam uma realidade geo-histórica de envergadura global (IANNI, 2000, p. 17).

Otavio Ianni afirma que a visão do mundo passa ser compreendida por várias metáforas que se combinam entre si:
Economia-mundo”, “sistema-mundo”, “Shopping center global”, “Disneylândia global”, “nova visão internacional do trabalho”, “moeda global”, “capitalismo global”, mundo sem fronteiras”, “tecnocosmo”, “planeta Terra”, “desterritorização”, “miniaturização”, “hegemonia global”, “fim da geografia”, “fim da história” e outras mais (IANNI, 2000, p. 16).

Para o autor cada uma dessas visões possui um ângulo de argumentação e análises que priorizam os aspectos econômicos, político, geográfico, histórico, cultural, religioso, lingüística entre outras. Na perspectiva de Ianni não se pode negar a existência da formação de uma comunidade mundial com várias possibilidades diferentes e com instrumentos diversos de comunicação eletrônica avançada (IANNI, 2000, p. 16). Essas tecnologias permitem que se desloque de um ponto a outro com muita facilidade. Esse cenário de mudanças sobre a visão do mundo é que vai possibilitar o surgimento do paradigma da globalização.
A globalização passou a ser um paradigma recorrente para o entendimento da modernidade, se tornando referência para as questões econômicas, culturais, sociais e religiosas. Enzo Pace conceitua a globalização como “processo objetivo de progressiva independência nas diferentes sociedades humanas espalhadas pelo planeta” (PACE, 1999, p. 25).
Para melhor entender as características da globalização será feita a seguir uma breve abordagem de dois aspectos que a caracteriza: o primeiro relacionado com as questões econômicas e sociais e o segundo, com as questões culturais e simbólicas.
No tocante aos aspectos econômicos e sociais, a globalização pode ser vista também como produção, distribuição de bens e de serviços, na perspectiva da expansão da economia de mercado e do consumo. É a possibilidade de o capital se expandir e se acumular. Uma das características desta globalização mercadológica seria o surgimento de “uma massa popular consumidora sensível a mensagens globais” (MOREIRA, 1996. P. 2).
A globalização se pautaria então, em uma unidade planetária a partir das questões econômicas direcionadas ao mercado de consumo. O mercado capitalista funciona sobre as bases de seu próprio ritual sacrificial, com suas próprias vítimas, imoladas aos deuses do mercado, ritual operado pelos novos sacerdotes do templo-mercado e legitimados pelos novos “sábios” e “profetas” do mercado e da sociedade de consumo (PARKER, 1996, p. 341).
O aspecto econômico, com a globalização, ganha relevância especialmente com o aumento das grandes corporações, com transnacionalização do capital: “toda economia nacional, seja qual for, torna-se província da economia global” (IANNI, 2000, p. 18).
Dentro da idéia da globalização um dos pilares de sua sustentação é a visão da economia global, que Octavio Ianni apontou da seguinte forma:
Além das mercadorias convencionais, empacotam e vendem-se as informações. Estas são fabricadas como mercadorias e comercializadas em escala mundial. As informações e entretenimento e as idéias são produzidos, comercializados e consumidos como mercadorias (IANNI, 2000, p. 16).

Nos aspectos culturais e simbólicos está fala se de “indústria cultural” , que revive, as fantasias simbólicas e rituais da magia e do mistério, que passam a funcionar para a lógica da troca. A globalização está relacionada também com as questões culturais e simbólicas que interferem na identidade e no modo de ser dos diferentes povos.
Esse processo é reforçado com a concentração e fusão de empresas e capitais que oferecem informação, entretenimento, atividades culturais, música, cinema, shows, revista, esporte e lazer. A globalização, com esses instrumentos, faz uma aproximação das fronteiras, dos sistemas simbólicos e leva à homogeneização dos gostos e comportamentos (MOREIRA, 1996, P. 5).
Como resultado dessa visão ampliou-se o contato com outras culturas e a difusão de bens culturais e ideológicos, com a criação de marcas mundiais e estilos de vida. Essas novidades são fruto do desenvolvimento e dos avanços tecnológicos recentes, que ampliaram e mundializaram a economia e a cultura. A globalização possibilitou uma consciência global, planetária, nos indivíduos e nas sociedades do mundo.
Assim consolida-se a sensação de que todos fazem parte de um mesmo globo e de uma sociedade civil planetária, que se caracteriza pela ultramodernidade que faz surgir um conjunto de não lugares (o metrô, os aeroportos, grandes centros comerciais) da multiplicação das zonas francas, nas quais diferentes culturas se encontram. Aparecem novos lugares simbólicos, onde cada um pode consumir coisas de diversos lugares e significados.
A globalização, segundo Octavio Ianni, tem sido vista como abertura de fronteiras e geração de espaço comum e que, assim, o planeta se encolheu e qualquer pessoa ou lugar pode ser alcançado através do teclado do telefone, da televisão ou do computador (IANNI, 2000, p. 07).
Desse modo a globalização trouxe consigo algumas conseqüências tais como o crescente processo de desculturalização, que leva à perda de identidade cultural e da capacidade de identificação simbólica com coisas e lugares. É essa identificação que faz com que a pessoa se sinta diferente do outro, através da qual ela pode vir a negar a si ou se tornar o outro.
A globalização é um processo de decomposição e recomposição da identidade individual e coletiva que fragiliza os limites simbólicos dos sistemas de crença e pertencimento. A conseqüência é o aparecimento de uma dupla tendência: ou a abertura à mestiçagem cultural ou o refúgio em universos simbólicos que permitem continuar imaginando unida, coerente e compacta uma realidade social profundamente diferenciada e fragmentada (PACE. 1999, p. 32).

Pace diz que o paradigma da globalização possibilita entender como se dão os processos de dominação de uma sociedade sobre as outras. Seria uma nova forma de colonização moderna das consciências, imposta pelos modelos das sociedades dominantes. Todos esses fatores juntos devem ser levados em conta para compreender como se dão as influências no modo das pessoas se organizarem em sociedade na busca da realização das promessas da modernidade e também para se situar frente à pós-modernidade ou modernidade tardia.





BIBLIOGRAFIA DE REFERENCIA
BAUMAN, Zygmunt. O Mal-Estar da Pós-Modernidade. Tradução: Mauro Gama, Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
BAQUERO, Marcelo. Um Caminho “alternativo” no empoderamento dos jovens: capital social e cultura política no Brasil. In. Democracia, Juventude e Capital Social no Brasil. Org. Marcello Baquero. UFRGS, Porto Alegre, 2004 p. 120 a 146.
COMBLIN, José, A Força da Palavra. “No principio havia a palavra”. Petrópolis: Vozes, 1986.
DOWBOR, Ladislau. Globalização e Tendências Institucionais. In: Desafios da Globalização. Organizadores: Ladislau Dowbor, Octavio Ianni, Paulo-Edgar A. Rezende. 3ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 09-16.
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. Tradução: Raul Fiker. São Paulo: Editora Universidade Paulista, 1991.
GOMES, Plínio Freire, O mal-estar coletivo da pós-modernidade. Disponível em: www.jt.estadão.com.br/suplemento/saba/2001/09/15saba009.html. Acesso em set. de 2002.
IANNI, Otavio. A Política Mudou de Lugar. In: Desafios da Globalização. Organizadores: Ladislau Dowbor, Octavio Ianni, Paulo-Edgar A. Rezende. 3ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 17-27.
MOREIRA, Alberto da Silva. Observações para uma sociologia da cultura pós-moderna e da religião. Súmula de um debate. Goiânia: Texto mimeo, 2004.
PACE, Enzo. Religião e Globalização. In ORO, Ari Pedro e Carlos Alberto Steil, Globalização e Religião. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999, 25-43.
PARKER, Cristián. Religião Popular e Modernização Capitalista. Outra lógica na América Latina. Tradução de Attílio Bunetta. Petrópolis: Vozes, 1996.
RICHARD, Pablo. Morte das Cristandades e o Nascimento da Igreja. Paulinas, São Paulo, 1984.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mão de Alice. O social e o político na pós- modernidade. 9ª Edição: São Paulo. Cortez, 2003.
THIELEN, Helmut. A crise da modernidade e o capitalismo atual. In: Além da modernidade? Para a globalização de uma esperança conscientizada. Petrópolis: Vozes, 1998.
TOURAINE, Alain. Crítica da Modernidade. Tradução: Elia Ferreira Edel. Petrópolis: Vozes, 1995.
ZAMORRA, José A. Modernidade – Identidade – Religião. Palestra: Resistir a desesperança. Seminário Ética e Religião em Th. W. Adorno. Goiânia, UCG, 2004.

JOVENS CONTEMPORÂNEOS: ENTRE A HETEROGENEIDADE E AS DESIGUALDADES

Síntese e Tradução
Lourival Rodrigues da Silva

Este texto é uma síntese traduzida de “Jóvenes contemporáneos: entre la heterogeneidad y lãs desigualdades” Manoel Roeberto Escobar e Nydia Constanza Mendoza.. Nomadas – Bogotá – Instituto de Estúdios Sociales Contemporâneos – Universidad Central – Octubre 2005. nº 23 – CLACS0 Libros – Universidad Central

Os autores afirmam que existem distintas formas de ser hoje e que estas formas estão marcadas pelas: transformações subjetivas, o mundo globalizado, a política, a cultura, a economia e os distintos projetos de sociedade. Que assim entender a juventude no mundo contemporâneo implica em referencias das transformações socioculturais que produzem o sujeito social em sua diversidade esta plenamente visibilizada e exaltada (ESCOBAR, pág. 11. 2005).

A singularidade dos jovens se evidencia na pluralidade – e que há uma pluralidade de modelos integrador da juventude. Aponta que estas singularidades podem ser marcadas pela fragmentação, fronteiras difusas, permeadas pela subjetividade, pelas desigualdades materiais e simbólicas do processo de globalização. Diz ainda que esta perspectiva da diversidade juvenil tenha atraído os organismos e entidades estatais (ESCOBAR, pág. 11. 2005).

Estes interesses têm um discurso ilusório de inclusão, consumo e tolerância às diferenças. Há uma emergência de múltiplos cenários de visibilização e lutas de grupos subalternos – apontando uma consciência dos problemas locais e causas particulares (ESCOBAR, pág. 11. 2005).

Estas emergências contribuem para uma maior descentralização do poder simbólico de múltiplos agentes e modos de circulação. Diminuem os limites entre centro e periferia. Existe uma emergência da temática juvenil nos variados cenários públicos – meios de comunicação, instancias estatais, universidades, as instancias especificas criadas para investigar a juventude e seus múltiplos discursos (ESCOBAR, pág. 11. 2005).

Esta emergência possibilitou visualizar as práticas e o surgimento de novos sujeitos sociais. A juventude foi sendo identificada nos seguintes processos: invisibilidades, estereótipos e recentemente reconhecimento de sua singularidade e foram estes interesses que levaram a decisões e definições de políticas de juventude especificas para contribuir na superação das desigualdades que afetam as condições vitais dos jovens latinos (ESCOBAR, pág. 12. 2005).

Os autores defendem que existe distintos viés de construção de experiências do sentido socioculturais juvenis e que estes são marcados pela idéia da pluralidade de espaços sociais reguladores por critérios flexíveis e que estes processos estão amparados nos acelerados processos de globalização que interferem na construção da identidade, dos sentidos e das experiências juvenil (ESCOBAR, pág. 12. 2005).

Pontuam que as identidades juvenis antes locais agora são construída em processo interéticos e internacionais produzidos pelos fluxos das tecnologias, corporações multinacionais, intercambio financeiro, repertórios de imagens, informações criadas, e distribuídas em todo planeta pela indústria cultural (ESCOBAR, pág. 12. 2005).

A sociedade contemporânea gera uma dinâmica para produção de sujeito jovem dentro da ordem hegemônica globalizada (ESCOBAR, pág. 12. 2005).

Essa ordem global do mercado e da cultura exerce um biopoder que disciplina os corpos. Constroem sujeitos específicos, os nomina mediante elaboração de necessidades, modelando satisfações e representações (ESCOBAR, pág. 12. 2005).

Retoma que o capitalismo fordista teve como pilar central a acumulação e que o atual capitalismo globalizado centra no consumo. Antes a prometia progresso, bem estar e liberdade. Agora prazer e paz (ESCOBAR, pág. 13. 2005).

O consumo passa ser uma via de satisfação do sujeito. Consome se objetos, símbolos, informações, bens, serviços, estilos de vida. Pontua que essa satisfação é efêmera, mutante e necessita de realização. Tem uma lógica que vai além da compra. Não basta ter. O que se consome se torna descartável e obsoleto. Gera uma segmentação que necessita de espetáculo – “hiperexperiencia” – “hiperestimulação”. A cidadania da pessoa se reduz a consumidores (ESCOBAR, pág. 13. 2005).

Para os autores os jovens contemporâneo são os que mais forte evidenciam a complexidade, paradoxos e tensões derivadas desta ordem global e sua ideologia. Diz que a subjetividade juvenil é um marco da industria da mass mediáticas e entretenimento. Afirma ainda que é rico o capital simbólico da juventude, mas que a possibilidade de consumo esta restringida para poucos (ESCOBAR, pág. 13. 2005).

Os jovens se fazem visíveis através de várias prática formas de expressão e discursos. Essa visibilidade segundo os autores resultou da: reorganização econômica e produtiva resultante da aceleração industrial cientifica e técnico. Aspectos que levaram ao que eles chamaram de retenção da juventude por mais tempo nesta idade e sei prolongamento na escola; ampliação da oferta de consumo e consumo cultural que focalizou produtos para os jovens; um aparato de discursos político e jurídico para orientar, conter e sancionar os jovens (ESCOBAR, pág. 14. 2005).

Pergunta quem ganha com essa exaltação a juventude? Quem ganha com essas subjetividades reconhecidas em uma ordem social complexa? Essa visibilização tem possibilitado o múltiplo surgimento de modos de pensar e saberes sobre os jovens (ESCOBAR, pág. 14. 2005).

Culturas outrora consideradas rebeldes e opositoras tem espaços legitimados nas tensões e reivindicações de demandas a partir de múltiplos discursos de participação juvenil . multiplicou-se as variações de organizações juvenis, participação... (ESCOBAR, pág. 14. 2005).

A diversidade juvenil ganhou capital simbólico que lhe deu reconhecimento de ordem estética, étnica (ESCOBAR, pág. 15. 2005). Exacerbação da singularidade x ilusão de inclusão.

Alguns jovens frente a essas fragmentações tentam recompor os fragmentos para pensar outras maneiras a parti da potencialidade reflexiva que permite desnaturalizar as profundas desigualdades sociais por eles/as vividos. Isso requer escolhas e olhares diferenciados: mulheres, indígenas, subalternos do sistema, e também a distancia que toma as organizações populares e os movimentos sociais da política vigente, criando uma cultura conflitiva que na disputa de sentido para a vida (ESCOBAR, pág. 17. 2005).